sábado, 28 de julho de 2007

A rebeldia de uma mulher islâmica

Autobiografia da somali Ayaan Hirsi Ali


Ayaan Hirsi Ali nasceu em Mogadíscio, Somália, em 1969 e cresceu sob o jugo de um islamismo medieval que purifica as raparigas «amputando-lhes o clítoris e retalhando-lhes ou nivelando-lhes os lábios do sexo e toda a zona cozida deixando-se apenas um pequeno orifício para a urina sair», e que lapida mulheres.Já adulta, a sua bússola da liberdade indicou-lhe a fuga para ocidente. Na Holanda, formou-se em Ciências Políticas, foi deputada da Câmara Baixa do Parlamento holandês pelo Partido Liberal, e fez da denúncia uma missão. Escreveu o argumento para o filme Submission do realizador holandês Theo van Gogh, assassinado em 2004 por um muçulmano radical. Com a cabeça a prémio, mas insubmissa, vive actualmente nos Estados Unidos sob vigilância de dois guarda-costas, e desloca-se em carros blindados. Surge agora em Portugal, contada na primeira pessoa, a vida desta mulher que ecoa gritos de muitas outras: Uma Mulher Rebelde – no original Infidel – é a autobiografia de Ayaan Hirsi Ali, um retrato vivencial da condição feminina nos países liderados pelo ditame masculino accionado com o fanatismo islâmico. Um retrato corajoso, com crítica social, política e religiosa, em 353 páginas inquietantes.Considerada pela Time uma das mulheres mais influentes do mundo, Hirsi Ali regista neste livro um depoimento, obviamente subjectivo, feito com recurso a memórias, sobre a realidade que foi a sua desde a infância até à actualidade. A educação das crianças, a vivência familiar, a escola corânica, as atrocidades do Islamismo, as consequências para quem ousa tentar o destino que não o traçado no livro sagrado. Porque o texto fala por si, transcrevemos, com supressões da nossa responsabilidade, extractos sobre a mutilação genital e a condição da mulher naquela sociedade, afinal nossa contemporânea...


Relato de uma mutilação genital:«Era a minha vez. A avó aproximou-se de mim e disse: “Vão tirar-vos esse kintir comprido, e então, tu e a tua irmã, ficareis puras.” A julgar pelas palavras e gestos da minha avó, esse vergonhoso kintir entre as minhas pernas, o meu clítoris, cresceria tanto que me balançaria nas pernas a cada passo que desse. Pegou em mim e, com uma mão firme, colocou-me na mesma posição que Mahad. Duas mulheres abriram-me as pernas. O homem, provavelmente um circuncisor itinerante do clã dos ferreiros, pegou numa tesoura. Com a outra mão, pôs-se a apalpar e a puxar o que eu tinha entre as pernas, como a minha avó quando ordenhava uma cabra. “Cá está ele, o kintir, cá está”, disse uma mulher. Vi então as laminas a baixarem entre as minhas pernas e o homem cortou-me os pequenos lábios e o clítoris. Ouvi um som, como o do galope do talhante quando retira a gordura da carne. Senti uma dor fulgurante, indescritível, e desatei a gritar. Tinham ainda de me coser: lembro-me da agulha comprida e embotada com que o homem furava os meus lábios ensanguentados, dos meus gritos de angústia e dor (…). Adormeci e só acordei ao cair da noite. Tinham-me atado as pernas para impedir que eu me mexesse e para facilitar a cicatrização. Sentia a bexiga a pontos de rebentar, mas já tentara urinar e a dor era insuportável. Coberta de sangue e suor, sacudida por calafrios, o meu sofrimento não acabava. (…) a minha convalescença durou cerca de duas semanas. (…) o homem voltou para tirar os pontos. Mais uma vez, magoou-me muito. Começava por soltar os fios com uma pinça de depilação, depois arrancava-os com puxões secos. (…) Depois disto fiquei mesmo com uma grande cicatriz entre as coxas, que me doía se me mexesse muito, mas, pelo menos, não voltaram a atar-me as pernas e não tinha de ficar deitada todo o dia sem me mexer.».Os mandamentos da mulher baarri:«uma mulher baarri é uma espécie de escrava devota. Honra a família do marido e alimenta-a sem discutir ou fazer perguntas. Nunca se queixa, nunca exige seja o que for. É forte no trabalho, mas a sua cabeça aceita tudo. Se o marido for cruel, se a violar e zombar dela, se arranjar outra esposa, se lhe bater, ela desvia os olhos e esconde as lágrimas. E trabalha no duro. Não tem o direito de errar. É uma besta de carga bem domesticada, dedicada, acolhedora e dócil. (…)Se a mulher é somali, deve convencer-se a si mesma de que Deus é justo e omnisciente e que Ele a recompensará no outro mundo. Enquanto tal não acontece, os que conhecem a paciência e a resistência da mulher atribuirão este mérito aos pais dela e à excelente educação que lhe deram. Os seus irmãos ficar-lhe-ão agradecidos por ela preservar a honra deles. Gabar-se-ão junto de outras famílias da submissão heróica da mulher. E, se ela tiver sorte, a família do marido apreciará essa obediência. Pode até acontecer que, um dia, o marido a trate como um ser humano.».


Uma Mulher Rebelde, autobiografia de Ayaan Hirsi Ali; Editorial Presença, Lisboa, Junho 2007

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Novo Director de Curso

Foi com alguma pena e desilusão que li o e-mail que o Professor Ricardo Vieira, e até então Coordenador de Curso de Serviço Social, nos enviou...

Segundo este foi nomeado como novo director do curso de Serviço Social (que agora se passa a designar de coordenador de curso, com funções acrescidas) o Prof. Doutor Pedro Silva.


O ex-coordenador refere, ainda, que dedicou cerca de 6 anos a esta grande causa que foi a implementação com carinho e a afirmação do curso de Serviço Social na ESE- IPleiria. Pode contar com a ajuda de muitos, entre os quais nós estudantes.

Contudo, "qualquer questão que se prenda com a coordenação do curso deve ser tratada com o professor Pedro Silva. Claro que, essencialmente nesta época de transição de direcção, podem contar, quer ele quer vocês, com a ajuda que eu possa e saiba dar."

Será o Professor Pedro Silva capaz de continuar esta luta pela afirmação do Serviço Social na comunidade estudantil da ESEL - IPL e no paronama educacional do Sistema de Ensino Superior??

domingo, 15 de julho de 2007

Mais de um milhão de pessoas vendidas como escravas


Luanda, 12/07 - O primeiro vice-presidente da Assembleia Nacional, João Lourenço, revelou hoje, em Luanda, que entre um a dois milhões de pessoas, particularmente crianças e mulheres, são vendidas anualmente como escravos no mundo, para a prática da prostituição e trabalhos forçados.
Com base nos dados das Nações Unidas, informou estarem a viver em condições de escravos prostitutas forçadas e crianças sujeitas a trabalhos cerca de 15 milhões de pessoas. Na sua óptica, os países de África, Ásia, América Latina e Europa do Leste são os que se situam nas chamadas zonas de origem, onde as "redes criminosas" recrutam ou raptam as vítimas e encaminham, na sua maioria, para países industrializados da Europa, América do Norte e para as monarquias do Médio Oriente.
Perante o quadro, apelou aos participantes para a necessidade de nos seus respectivos países encararem o problema como uma séria ameaça à segurança e estabilidade dos estados e um atentado aos mais elementares direito dos cidadãos. "Estamos perante o crime organizado que trafica seres humanos como se de mercadoria se tratasse, que retira das nossas filhas e filhos o direito à liberdade, educação e ensino, à livre escolha de viver no seu país ou noutro, a opção de uma profissão, enfim o direito à vida plena em sociedade", frisou. Assim, disse, os estados devem actuar de forma coordenada, começando por tipificar o tráfico de seres humanos como um dos mais hediondos crimes, punível e condenável por Lei e, posteriormente, se organizar uma base de dados para a partilha entre os países do continente, e não só, com a Interpool e as instituições internacionais competentes na matéria. "A nível interno dos nossos países devemos mobilizar e atrair para esta luta toda a sociedade, as polícias, os órgãos de justiça, igrejas, ong, universidades, a comunicação social e todos aqueles interessados em contribuir para se pôr fim à maior vergonha do século", salientou.
Na sua intervenção, apelou ainda para a necessidade de o encontro abordar a problemática da violência no lar, onde, coincidentemente, na maioria dos casos, a principal vítima é também a mulher e a criança. Referiu que a violência doméstica não se resume apenas na violência física, mas também moral e psicológica, na mutilação genital feminina, na negação do direito da mulher permanecer no lar em companhia de seus filhos em caso de morte do cônjuge. Na sua óptica, a sociedade que não for capaz de reduzir ou acabar com a violência doméstica estará menos preparada, motivada e capaz de contribuir para o esforço internacional de luta contra o tráfico de seres humanos, da prostituição forçada, da pedofilia e do trabalho infantil. O evento decorre até ao dia 14 do corrente mês sob o lema "A acção dos Procuradores Africanos na Luta contra o Tráfico de Seres Humanos, Violência Doméstica e Abusos à Criança" com a participação de representantes de dezoito países do continente.
A Associação dos Procuradores Africanos (APA) foi criada em Agosto de 2004, em Maputo (Moçambique), sob o lema "África Unida Contra o Crime". A África do Sul ocupa a presidência da organização, estando o seu secretariado geral a cargo de Moçambique. Angola é membro do comité executivo, órgão que materializa as decisões da organização.


http://www.angolapress-angop.ao/noticia.asp?ID=545040


sexta-feira, 13 de julho de 2007

Técnicos de Serviço Social na luta contra o preconceito

Com o objetivo central de sensibilizar a categoria dos/as Técnicos/as de Serviço Scoial para o debate em torno da livre orientação e expressão sexual foi lançada, no início de Julho, a Campanha Nacional pela Livre Orientação e Expressão Sexual: "O Amor fala todas as Línguas - Assistente Social na luta contra o preconceito". Marylucia Mesquita, Técnica de Serviço Social e coordenadora geral do DIVAS - uma das organizações que coordenam a campanha - explica que "o Serviço Social, como as demais profissões, está inscrito numa sociedade desigual, heterossexista, machista e patriarcal e, portanto, é chamado a revisitar sua intervenção teórico-prática permanentemente".

Com esta iniciativa, espera-se que os/as assistentes sociais estejam mais preparados/as para o enfrentamento às discriminações e opressões praticadas contra gays, lésbicas e bissexuais no país, denunciando aos Conselhos Regionais da categoria quaisquer violações aos direitos destas pessoas. Leia na Rets 11.07.07