domingo, 26 de outubro de 2008

Abusos sexuais

Gratuitas e de forma voluntária. São assim as consultas que o ginecologista condenado por abusos sexuais a utentes realiza todas as semanas a alunas, professoras e funcionárias da Universidade do Algarve (Ualg), através do Serviço de Acção Social.

Foi numa destas consultas com o médico J.V., no início de 2004, que Ana (nome fictício), funcionária da Ualg, viveu momentos dramáticos. "Mandou-me despir e começou logo por me mexer no clitóris de uma forma estranha. Tocou-me como um homem e não como médico. Enquanto mexia dizia que tinha uma coisa muito bonita com lábios grandes. Nunca calçou luvas", recorda a vítima, que não teve coragem para fazer queixa. "Era a minha palavra contra a dele e ele é uma pessoa poderosa", desabafa.

Os minutos pareceram horas para Ana, mas nunca teve reacção para gritar e fugir. Ficou assustada. "Disse-me que tinha os músculos da vagina fortes como os homens gostam e que devia exercitar mais porque até os bichinhos gostavam", lembra a funcionária da Ualg, que diz saber da existência de mais casos de alunas e funcionárias, que nunca foram formalizados por vergonha. O CM tentou contactar o reitor da Ualg, sem sucesso.

Os abusos sobre Ana foram comunicados ao Serviço de Acção Social, mas nada foi feito e o clínico continua com as consultas, tal como no Hospital de Faro, onde outra vítima do médico foi assediada.

O CM sabe que o clínico já fez voluntariado no IPJ teve um problema grave com uma jovem de 16 anos. A mãe tentou mover um processo contra ele, mas depois desistiu. O médico foi afastado.

FUNCIONÁRIA DE HOSPITAL ALICIADA PARA IR A CLÍNICA
As queixas contra J.V. começam agora a aparecer. Além dos três casos que chegaram a tribunal – onde o médico foi condenado por dois crimes de abuso sexual e ainda decorre recurso – mais duas mulheres denunciam o assédio do clínico. Além de Ana, também Maria (nome fictício), funcionária do Hospital de Faro, ficou estupefacta com a atitude do ginecologista. "Fui ter com ele para me fazer uma consulta e ele disse-me se eu não preferia ir à clínica privada dele porque lá estávamos mais à vontade", recorda.

O clínico começou logo a tratá-la por tu e agiu com "um jeito carameloso", que deixou Maria a "sentir nojo dele". A atitude do médico fez com que a funcionária saísse da sala. Nunca fez queixa à administração do Hospital, igualmente por vergonha e receio de sofrer represálias. Agora, depois da notícia publicada pelo CM, diz que "mais casos vão aparecer".
Fonte: CM, Rui Pando Gomes

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